Sabedoria Ramatis

Sabedoria Ramatis

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O DRAMA DO CALVÁRIO lV






PERGUNTA: Há veracidade nos relatos evangélicos de que Jesus também foi vilipendiado mesmo depois de pregado na cruz?


RAMATÍS: Do alto da cruz Jesus circundou o seu olhar terno e amoroso sobre as criaturas que se achavam dispersas pelo cimo do Gólgota, procurando rostos amigos e entes queridos.
Finalmente identificou Madalena, Salomé e Joana de Khousa; João, o querido discípulo, e seu irmão Tiago, sempre paciente e entusiasta; Marcos, corajoso e decidido; Tiago, maior, o fiel amigo. Mais além, quase atingindo o cimo do monte, chegava Pedro, cujo vulto alto e robusto parecia apoiar-se em seu irmão André; a seu lado, Sara e Verônica amparavam Maria, a infeliz mãe, que retornava ao Gólgota, depois de socorrida pela terceira vez dos seus desfalecimentos cruciantes ante o martírio do filho querido. Aquele quadro afetivo enfeixando as imagens dos seres que tanto ele tinha amado na sua jornada terrena; que, pouco a pouco, venciam o temor humano e vinham se juntar ao pé da cruz incendidos pela força da vida espiritual, satisfez Jesus e o encheu de regozijo. A sua morte e seu sacrifício já não seriam inúteis, pois as almas que escolhera para transmitir as suas idéias à posteridade, agora se comunicavam entre si e se agrupavam pela força coesiva dos pensamentos e dos sentimentos evangélicos, assim como as ovelhas, dispersas pela tempestade, depois se reúnem novamente sob o carinho do seu pastor!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

O DRAMA DO CALVÁRIO lll








PERGUNTA: Que sucedeu a Jesus após as cenas humilhantes praticadas pelos servos, escravos e criados hebreus da corte de Pilatos?


RAMATÍS: Era quase meio-dia; o Sol ia alto e o dia estava abafadiço prometendo chuvas torrenciais para a tarde, quando Jesus foi custodiado por um grupo de soldados romanos, iniciando a sua trágica jornada a caminho do calvário, saindo pela porta da Damasco. O povo aglomerava-se junto do portão e dos muros da prisão; quando Jesus apareceu, Maria de Magdala, Salomé, Joana, Sara, Maria e outras mulheres precipitaram-se para abraçá-lo, mas foram impedidas com rudeza pelos soldados. Então ajoelharam-se, soluçando, sob as mais pungentes lamentações e clamando por Deus, enquanto o Amado Mestre lhes volvia um olhar compassivo e resignado. A rua se fazia cada vez mais íngreme e ele estava palidíssimo; tinha as mãos atadas e dava mostras visíveis de cansaço e dores físicas. À sua retaguarda, dois servos seguiam-lhe os passos carregando o pesado tronco de árvore, que depois lhe serviria para o suplício da cruz.

terça-feira, 26 de junho de 2012

O DRAMA DO CALVÁRIO ll






PERGUNTA: E que dizeis das cenas relatadas pelos evangelistas em que Jesus foi alvo de cruéis zombarias e insultos, por parte dos soldados romanos? (1)



RAMATÍS: Realmente ocorreram algumas cenas degradantes contra o Mestre Jesus no pátio da prisão romana, mas não se ajustam à descrição melodramática dos evangelhos. Os legionários romanos, como prepostos de Pôncio Pilatos, eram produtos de férrea disciplina de três anos de trabalho consecutivo e preparo guerreiro; homens corajosos, altivos e decididos, embora rudes e impiedosos. No entanto jamais desciam ao espetáculo circense de cuspir e esbofetear os prisioneiros, pois mantinham certo decoro nos seus atos e tudo faziam para não mancharem a sua dignidade de "homens superiores"!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

O DRAMA DO CALVÁRIO l






PERGUNTA: Jesus foi realmente flagelado? Temos compulsado obras que desmentem esse relato dos evangelistas, considerando que seria demasiada perversidade e contrária à ética dos romanos flagelar um condenado à sentença de crucificação!



RAMATÍS: Por que Jesus não poderia ser flagelado, se o condenaram ao suplício mais atroz e infamante, como a morte na cruz? Os castigos corporais eram de hábito comum entre os romanos; o chicote, um símbolo do seu poderio sobre os povos vencidos, e a flagelação, embora fosse um método bárbaro, consistia num corretivo tão comum entre os próprios concidadãos de um mesmo país, como o velho regime da palmatória sob o jugo do mestre-escola. E isso não poderia ser diferente naquela época, em que as qualidades cristãs ainda eram embrionárias na humanidade. Aos romanos pouco lhes importava a distinção entre os prisioneiros vencidos ou escravos, pois não lhes minorava a pena e o tratamento o fato de serem pobres, ricos ou cultos, mas qualquer reação do vencido punia-se pelo primeiro capataz ou soldado que se sentisse irado ou ofendido por qualquer resistência alheia.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Jesus, seus milagres e seus feitos - Vl










PERGUNTA: E que dizeis sobre a ressurreição de Jesus, no terceiro dia de sua crucificação, após sua morte corporal?


RAMATÍS: Embora Jesus tenha aparecido em espírito, a Maria de Magdala, aos apóstolos e outros discípulos na estrada de Emaus, isso foi um fenômeno de ectoplasmia, pois Madalena era poderoso médium, que, algumas vezes, concorrera para certos acontecimentos incomuns na peregrinação do Mestre.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Jesus, seus milagres e seus feitos - V







PERGUNTA:  Que nos dizeis a respeito das supostas relíquias do Mestre Jesus, às quais o Clero Católico atribui a virtude de produzirem milagres? Existem?


RAMATÍS: Em todos os credos e religiões disseminados pelo mundo, como o Catolicismo, Taoísmo, Budismo, Muçulmanismo e mesmo o Judaísmo, avultam as relíquias de seus líderes, fundadores e missionários mais importantes. Naturalmente, a par dos que acreditam sinceramente no poder misterioso ou na veracidade de tais relíquias, há os charlatães e os especuladores, que se aproveitam da oportunidade para a realização de negócios astutos.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Jesus, seus milagres e seus feitos - lV










PERGUNTA: Há fundamento na assertiva de que Jesus caminhava "sobre as águas"?


RAMATÍS:  Ainda hoje na Índia não é muito difícil encontrarem-se indivíduos que conseguem realizar o prodígio de andar sobre as águas, caminhar sobre cacos de vidros acerados e deitar-se em braseiros sem quaisquer danos, pois a matéria não passa de energia condensada do mundo oculto, que pode ser dominada pelo homem, conforme a vossa ciência vos prova dia a dia. Mas é preciso distinguirmos a função de um prestidigitador que surpreende o senso comum das criaturas operando fenômenos exóticos, com a "missão" de um Espírito do quilate de Jesus.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Jesus, seus milagres e seus feitos - lll








PERGUNTA: E quanto às curas de paralíticos, cegos, surdos, mudos. Que nos podeis  esclarecer?


RAMATÍS: Embora se tratasse de entidade angélica, responsável pela vida espiritual do orbe terráqueo, Jesus também teve que se adaptar sensatamente ao metabolismo complexo da vida humana e de suas relações com o meio. Sob a pedagogia dos Essênios, amigos da família, Jesus desenvolveu as suas forças ocultas sob rigorosa disciplina e aprendizado terapêutico, a ponto de curar pela simples presença, aqueles que dinamizavam um intenso estado de fé em sua alma.

domingo, 17 de junho de 2012

Jesus, seus milagres e seus feitos - ll







PERGUNTA: E quanto à ressurreição de Lázaro?


RAMATÍS: Antes de Jesus, o profeta Elias já havia ressuscitado a filha da Sarepta; Apolônio de Tyana ressuscitara uma jovem; e Eliseu, um filho da mulher sulamita. Realmente, Jesus assistiu Lázaro e o salvou de morte certa; mas os exegetas da Bíblia quiseram levar o caso à conta de uma ressurreição, derrogando assim as próprias leis que o Mestre afirmou não vir destruir, mas sim cumprir.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Jesus, seus milagres e seus feitos - l






PERGUNTA: Podeis dizer-nos se Jesus realizou realmente todos os milagres relatados nos
Evangelhos?


RAMATÍS: O Mestre realizou inúmeras curas e renovações espirituais, que não devem ser consideradas milagres, mas resultantes de suas faculdades mediúnicas. Em virtude de sua elevada hierarquia espiritual, e da incessante cooperação das entidades angélicas que o assistiam, tudo o que ele realizava nesse sentido, embora tido por miraculoso, era apenas conseqüência da aplicação inteligente das leis transcendentais.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

AS PREGAÇÕES E AS PARÁBOLAS DE JESUS – Vlll






Embora considerando-se que foi a própria tradição espiritual e não a história profana que fez a obra de Jesus chegar até nossos dias, gostaríamos de saber como isso foi possível, apesar de tantos sofismas, interpolações e fantasias com que os homens obstruíram os seus ensinamentos.



RAMATÍS: Realmente o sacerdócio organizado tem feito do Homem Luz um personagem irreal, cuja figura vem sendo continuamente retocada em cada concilio sacerdotal, misturando-lhe a realidade com a fantasia e a lógica com a aberração. Mas aproxima-se, entretanto, o momento de reajuste há tempo desejado; e em breve tereis conhecimento da força original da obra de Jesus, que, embora fosse um anjo descido do Alto, viveu sua existência coerente com a lei do vosso mundo.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

AS PREGAÇÕES E AS PARÁBOLAS DE JESUS – Vll





  O que nos surpreende é o silêncio dos historiadores profanos a respeito de Jesus, quando o seu movimento abrangia a classe mais numerosa da Judéia, indubitavelmente os pobres!



RAMATÍS: A Boa Nova pregada por Jesus atraía as multidões, malgrado os pessimistas e os sarcastas o julgassem um tolo e fantasioso pregador a sulcar inutilmente os caminhos da Palestina, no desempenho de uma tarefa tantas vezes tentada por outros precursores, mas sem a força de modificar o povo e o Clero judeu!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

AS PREGAÇÕES E AS PARÁBOLAS DE JESUS – Vl









PERGUNTA: Considerando-se a Palestina uma terra pródiga de profetas que pregavam novos credos trazendo revelações incomuns e até provocando revoluções sediciosas, por que Jesus pairou acima de todos se ele pregava uma doutrina bastante prematura para a época?


RAMATÍS: O principal atrativo da pregação de Jesus era a sua explicação sobre um Deus magnânimo, justo, afetivo e quase humano, que amava seus filhos tanto quanto o faria o pai mais amoroso da Terra. O estilo de Jesus era simples, afetivo e convincente, extremamente comunicativo com aqueles que o ouviam; ele não tentava convencer o seu público através de palavras complexas ou pelos recursos artificiais da eloquência humana. Explicava-lhes as premissas encantadoras de um mundo celestial e as possibilidades de todos serem felizes. Suas palavras eram suaves, doces e recendiam o próprio perfume dos campos e o aroma das florinhas silvestres; suas formas e suas cores ficavam vivamente gravadas e nítidas na mente de seus ouvintes.
Em suas prédicas era quase um narrador de histórias de um brilhante e insinuante colorido; um peregrino que se punha a contar as coisas mais delicadas e atrativas de paragens longínquas. Os minutos e as horas transcorriam celeremente e aquela gente derramada pela encosta florida, recostada nas pedras e nos tufos de capim verdejante, ficava imóvel, sem um gesto, atenta à musicalidade da voz meiga e confortadora do rabi galileu!
Jesus não cansava o povo com as longas perorações e o palavreado obscuro, pesado ou sibilino; expunha sentenças curtas historietas breves e principalmente as formosas parábolas que tanto fascinavam o auditório. Tudo o que ele mencionava aos encantados ouvintes que lhe bebiam os ensinos num verdadeiro "suspense", era impregnado de imagens comuns e conhecidas da própria vida. Nas suas narrações vicejavam o mar, as montanhas, as aves, os rios, as flores, as nuvens, o campo e as árvores, gravando-se tudo na forma de imagens claras e objetivas, que não exauriam o cérebro dos ouvintes mais incultos. Nenhum profeta jamais pudera comover e apaixonar tanto o seu público e seus adeptos; ninguém antes dele trouxera tantas esperanças aos homens entristecidos, aos pobres desesperados e aos enfermos abandonados!  Até seus dias, o mundo tivera muitos sábios, profetas, instrutores e líderes religiosos que deixaram sulcos luminosos na estrada empoeirada do mundo físico; mas somente Jesus se fazia tão compreensível nos corações das criaturas! A sua "Boa Nova" era um refrigério porque descrevia com tal certeza e sinceridade o reino maravilhoso do Senhor, à espera dos infelizes, tristes, pobres e enfermos que até os afortunados se confrangiam disso  temerosos de ficarem fora dos muros dessa cidade encantada! Assim como o estatuto regula a conduta moral e disciplina os movimentos dos associados de uma instituição recreativa, Jesus também estatui o modo como deveriam se portar os cidadãos do "reino de Deus" especificando-lhes as virtudes que deveriam desenvolver para o êxito dessa sublime realização. Daí a força e o poder renovador do "Sermão da Montanha", quando bendizia os pobres, os infelizes, os misericordiosos, os pacíficos, as vítimas, os perseguidos, conclamando-os como verdadeiros cidadãos daquele reino feliz que ele viera pregar.
Sua voz penetrava como gotas refrescantes nos corações dos sofredores e os seus ouvintes animavam-se, ardendo de entusiasmo e ventura, ante a simples sugestão recebida! Era uma graça, uma dádiva prometida por aquele profeta que não mentia, não enganava e fizera voto de renúncia a todas as coisas valiosas e atrativas do mundo terreno, porque, dizia ele, "o Pai já lhe dera tudo o que ele desejaria possuir!" Os galileus eram pobres, mas viviam satisfeitos, quer pela beleza do cenário que os rodeava, assim como pela facilidade da pesca que os sustentava sem problemas complexos de alimentação. Eram simples no vestir, pois o clima tão ameno e amigo fazia-os desejar tão pouco para serem felizes. E por isso eles confiavam em tudo o que Jesus dizia, porque lhes falava em coisas certas, objetivas e passíveis de se concretizarem com a própria vida de que participavam!
O natural desapego que os dominava pelas circunstâncias favoráveis do próprio meio tão generoso, não os fazia criaturas negligentes, inconformadas ou desconfiadas; por isso vibravam intensamente com os quadros belos e poéticos da narrativa do Mestre Jesus.
Era um delicioso convite a seguirem em direção ao reino de um Deus excessivamente amoroso, um Senhor que cumulava de alegrias e favores os seus súditos e nada lhes exigia de oferendas, compromissos e taxas religiosas escorchantes, como era próprio de Jeová, cada vez mais insatisfeito.
Era muito mais fácil o ingresso nesse reino tão feliz, cujas exigências eram tão poucas, principalmente para os pobres, os doentes, os tristes e os abandonados; aconselhava-se a libertação das riquezas, do orgulho, da vaidade, da cobiça, da maldade, da ira e da inveja! Antes do esforço hercúleo para adquirir os bens do mundo, o homem encontrava menos dificuldade para abandoná-lo; podia controlar-se mais facilmente dos ataques do orgulho ou da ira, do que mobilizar forças para a auto exaltação no seio da humanidade! Enfim, o profeta de Nazaré exigia pouquíssimo e eles já viviam quase de conformidade com o que lhes era pedido. Amenizava-lhes a vida ensinando-os a ser venturosos no seio da pobreza e do sofrimento; oferecia-lhes justas compensações para todas as vicissitudes e transtornos da vida humana! ''Procurai primeiro o reino e a justiça de Deus e tudo o mais vos será dado com largueza". (5)


(5) Esse tema proposto por Jesus está também esmiuçado pelos seguintes evangelistas: Mateus, cap. VI, 19. 21, 24 a 34; Isaías, cap. XII, 22, 31 a 34.



 (Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

domingo, 10 de junho de 2012

AS PREGAÇÕES E AS PARÁBOLAS DE JESUS – V












PERGUNTA: Supomos que, se Jesus exercesse qualquer função prosaica no mundo, ele não poderia dedicar-se tão eficientemente à sua doutrina e às peregrinações. Não é verdade?


RAMATÍS: O povo judeu considerava os seus rabis como uma instituição tradicional e mesmo necessária para a solução dos milhares de problemas e dúvidas que surgiam a cada passo entre os discutidores e aprendizes. Eles atendiam as ansiedades espirituais em público, semeando conceitos benfeitores, justificando compromissos, regras e submissões religiosas. Por isso, eram benquistos como os preceitos vivos da religião mosaica e não pesavam na economia do povo judeu, que os ajudava e fazia questão de mantê-los em atividade! No caso de Jesus o seu ministério despertava protestos, ironias, críticas e irascibilidades em certas classes, porque os seus ensinamentos não se ajustavam à tarefa comum do rabinato das estradas, pois transcendiam corajosamente a tradição religiosa, sacudiam a canga bovina do povo e despertavam dúvidas pelo esclarecimento dos dogmas, das especulações e fantasias do sacerdócio astucioso! O rabi Jesus não seguia Moisés na sua linhagem doutrinária; seus conceitos eram convites excêntricos que quebrantavam o espírito viril e indomável do judeu na sua fé, obstinação e ódio contra o romano!
A Galiléia era uma região onde a natureza pródiga oferecia a todos os habitantes o máximo de formosura, encanto e também de sustento fácil! Os golfos e os lagos da Palestina eram extremamente piscosos, sobretudo o lago Tiberíades. O povo vivia principalmente de pesca, e do peixe faziam toda sorte de pratos alimentícios; além de guardarem fartura de farinha e conservas para o inverno, que não era tão rigoroso. Havia frutos em abundância e com facilidade se desenvolvia a apicultura, além da indústria do mel de figo; pêssegos, cerejas, laranjas, per as e o figo eram coisas comuns nos lares hebraicos. O pão de centeio, de trigo ou de mel nutria as dispensas dos mais pobres; e o mulheril perseverante e laborioso, produzia com facilidade outros meios de alimentação pródiga e nutritiva. Não se verificava essa exigência angustiosa das famílias pobres das cidades modernas, em que a moeda, ganha com imensa dificuldade mal consegue suprir uma refeição diária. Entre os galileus, a hospitalidade recíproca era um dever proverbial e sagrado; havia um constante fluxo de visitação entre o povo; e quando, porventura, alguém sentia-se em dificuldade recorria aos mais bem providas, que passavam a sustentá-lo até melhores dias e sem quaisquer exigências onerosas. Assim, o beneficiado ficava na obrigação de atender, no futuro, outro semelhante necessitado, compensando os favores recebidos.
Os presentes, as trocas e os empréstimos eram acontecimentos comuns, pois naquela gente o sentimento fraterno e a preocupação de servir o próximo estavam na índole quase geral.
Deste modo, Jesus não fazia falta junto à família, nem sua inatividade era motivo de prejuízo ou desdouro para a comunidade de Nazaré. Também não arregimentava acólitos desviando-os de seus lares para seguirem-no estrada afora, porque estes acompanhavam-no depois de guarnecerem suas famílias de todas as necessidades; e seu retorno era breve! Na condição de rabi itinerante Jesus atendia a uma das tarefas mais imprescindíveis daquela gente correspondente às ansiedades espirituais de todos afeitos a uma religiosidade fanática. Tanto o Mestre como os seus seguidores contentavam-se com as migalhas que sobejavam das mesas e vestiam-se com simplicidade, aceitando as sobras dos lares mais fartos sem pesar na economia local. Eram frugais na alimentação, como cultores de uma virtude própria do "reino» de Deus", completamente despidos de quaisquer outros objetivos que não fossem sua tarefa messiânica. Prevendo-se os dias em que a caravana do Mestre Jesus se manteria em atividade nas cidades ou lugares adjacentes, quase todos os moradores, num esforço coletivo, providenciavam os meios para que os viajantes não viessem a sofrer qualquer necessidade, no tocante aos alimentos e hospedagem.
Hoje também se repete essa disposição emotiva e espiritual entre os espíritas que se sentem felizes e eufóricos em proporcionar bom acolhimento aos confrades, oradores e doutrinadores que passam por suas cidades, a serviço do Espiritismo. Quando isso acontecia, então recrudescia-se a pesca, o cozimento de pães, a moagem de trigo, a preparação de conservas, a secagem de peixe, a fabricação de geléias, biscoitos, mel de figo; aumentava-se a feitura da farinha de centeio e de trigo, a destilação de xaropes e a produção de sucos de laranja, pêssego, maçã e o dificílimo caldo de cerejas. Era uma festa emotiva para aquele povo despido de acontecimentos insólitos. As mulheres trabalhavam alegremente para cooperar no êxito e na divulgação da Boa Nova trazida pelo profeta de Nazaré. Eram confeccionados delicados farineis para a jornada mais longa do rabi e dos seus fiéis; um ou mais burros seguiam à retaguarda dos peregrinos conduzindo as provisões necessárias para o sustento de todos durante as pregações. A ternura e a alegria confraternizavam todos e os deixavam sumamente felizes pela oportunidade de participarem mais ativamente no advento da doutrina cristã!
Em face do espírito de hospedagem e solidariedade que predominava entre a maioria dos judeus da época, Jesus, seus discípulos e seguidores conduziam reservas abundantes e terminavam por distribuir grande parte de suas provisões e rações aos deserdados que encontravam durante sua peregrinação, comprovando a feição terna e gentil da caridade e do amor ao próximo, ainda patente no seio do Cristianismo. Os leprosos atirados aos grotões e às furnas que marginavam as estradas eram constantemente visitados pelos pregadores da nova crença, recebendo deles não somente alimentos e vestes necessários para o corpo físico, como ainda a palavra amiga e confortadora do amoroso rabi Quando todos retornavam felizes e eufóricos para seus lares, com a alma satisfeita pela alimentação espiritual do amor que é o traço essencial da contextura do anjo, depois de suas incursões pela Judéia divulgando o reino de Deus a todas as gentes, então eram recebidos amorosamente pelos seus próprios familiares com festas e demonstrações afetivas do mais puro sentimento! Os que ficavam à retaguarda cuidando das coisas prosaicas da vida em comum, ainda se davam por felizes ante o ensejo de participarem humildemente da obra do Mestre Jesus!
É por isso que nos relatos evangélicos é possível identificarmos a profunda afabilidade que sempre existia e unia os apóstolos e suas famílias, cada vez mais expansivas pela adesão de outros membros e parentes à missão de Jesus, o qual era o primeiro a não permitir sacrifícios alheios para ele transmitir a palavra do Senhor, pois em sua natureza profundamente honesta, mística e generosa, sentia-se o único responsável pelos óbices e sacrifícios que porventura adviessem na pregação do Cristianismo. Ele administrava tão sabiamente sua tarefa messiânica, que a história religiosa nos fala da ordem, disciplina e obediência que reinavam entre ele e seus discípulos propondo soluções e sugerindo providências que não exorbitassem do bom senso.


(Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

quinta-feira, 7 de junho de 2012

AS PREGAÇÕES E AS PARÁBOLAS DE JESUS – lV








PERGUNTA: Jesus sempre recebeu o apoio e a adesão dos seus conterrâneos da Galiléia, quando iniciou suas prédicas evangélicas?


RAMATÍS: Mudam-se as épocas, mas os homens se repetem porque a Terra ainda é uma escola de educação primária, cuja turma aprovada no aprendizado do ABC, é imediatamente substituída por outro contingente de almas analfabetas e portanto nas mesmas condições espirituais dos aprovados anteriormente. Aliás, o próprio Jesus queixou-se de "que ele viera para os seus e eles não o conheceram", justificando perfeitamente o aforismo "santo de casa não faz milagres", coisa que tornaria a acontecer hoje, caso ele retornasse à Terra para cumprir tarefas semelhantes. Iniciando a sua jornada messiânica, o Mestre Jesus foi alvo de entusiasmos e de zombarias, de respeito e sarcasmo, de elogios e censuras, de admiração e hostilidade. Os gozadores, os egoístas, os hipócritas de todos os tempos, também estiveram presentes na sua tarefa de libertação espiritual do homem e sem dúvida, ainda hoje estariam novamente na sua "segunda vinda".
Os mais irreverentes da época consideravam Jesus um indivíduo hábil, esperto e talentoso, que seduzia as mulheres jovens enquanto usufruía a fortuna das viúvas ricas. Os risos de mofa, os ditos ferinos, o sarcasmo e a censura circulavam em tomo dele, desafinando-lhe a tolerância e a resignação. Entre os seus próprios seguidores havia os pusilânimes, traidores e aproveitadores, como acontece nos movimentos políticos e nas revoluções sociais. Para a maioria dos maledicentes Jesus não passava de profeta dos vagabundos, pois a perfídia, como a peçonha da serpente que se renova a cada mordedura, também lograva infiltrar-se entre os seus discípulos e simpatizantes. Os mais débeis afastavam-se temerosos ante a primeira ameaça do Sinédrio e os interesseiros desistiam ante o insucesso financeiro do movimento cristão!
Certas vezes, ao surgir na curva do caminho principal que se estreitava depois na rua pedregosa principal de Nazaré, voltando de suas pregações junto ao Jordão, Tiberíades ou adjacências e cercado pelos pescadores, homens do povo, viúvas, mulheres de todos os tipos e condições sociais, então os velhos rabis tomados de cólera "sagrada” recebiam Jesus com ápodos e vitupérios. Batiam-lhe as portas da sinagoga à sua passagem num protesto vivo contra as suas ideias e a ousadia de contrariar os preceitos de Moisés, em troca de aforismos e ensinamentos subversivos à religião do povo! Eram velhos sacerdotes ainda submetidos às regras dos manuscritos ortodoxos e não se reconciliavam com a pregação livre e talentosa de Jesus. Os seus protestos senis combatiam a idéia imortal que vicejava à luz do dia sob a palavra mágica do jovem pregador de  Nazaré! Desesperados, empunhavam no recinto da sinagoga, massudos e envelhecidos pergaminhos para justificarem suas prédicas ortodoxas e o dogmatismo de suas palavras vazias! 
Os fiéis entravam e saíam do santuário local, tão ignorantes como viviam todos os dias à semelhança do que ainda hoje ocorre com os crentes modernos, que fazem dos templos religiosos exposições de modas, ou apenas demonstração de fé para efeito de conceito público. O rabi Jesus era portador de ideias revolucionárias explicando a existência de um Deus incompatível com a obstinação, o fanatismo e as especulações religiosas dos judeus. Isso era a subversão de todos os costumes religiosos e tradicionais do passado até a abdicação da virilidade judaica, pois ele chegava a aconselhar a "não violência" contra os romanos!
Assim, alguns dos seus parentes, vizinhos e amigos, aliando-se aos que possuíam interesses no prolongamento de uma situação de utilitarismo pessoal e acobertada pela falsa religiosidade, também não viam com bons olhos Jesus em suas pregações tão liberais, desprendidas dos preconceitos milenários. Ele contrariava a própria tradição do aconchego íntimo do santuário, uma vez que pregava abertamente em público junto aos montes, aos lagos, enfraquecendo o poder religioso e a força sacerdotal centralizados nos dogmas religiosos. A Natureza era á sua única igreja, pois ele tanto pregava ao povo do cimo de uma colina, sob a fronde de uma árvore, à margem dos rios e dos lagos, como da popa de um barco de pesca! Os seus sermões eram claros, simples e sem mistérios, o que também não agradava aos sacerdotes que se sacudiam nos púlpitos agitando a atmosfera das sinagogas com os berros de uma altiloquência deliberada sobre o público!
Era um contrassenso que um jovem sem aparatos sagrados nos templos e sem os estágios disciplinadores do entendimento mosaísta, em vez de se contentar com a modesta função de rabi itinerante, expondo soluções miúdas entre povo, se pusesse a minar as bases do Torá, substituindo temas, preceitos e regras ditados pelo grande legislador que fora Moisés! O seu papel de rabi seria apenas o de explicar com mais clareza, ou mesmo sob um toque de sua opinião pessoal os conceitos da religião dominante, mas sem deformá-los ou desmenti-los!
Ademais, Jesus enfraquecia o "mistério" da religião que alguns homens astutos como as raposas, evitavam explicá-lo ao povo ignorante e tolo! Ensinava tudo muito fácil, expunha em público as delicadas facetas da especulação iniciativa dos templos e os mais complexos tabus tornavam-se brinquedo de criança! A compreensão da imortalidade tornava-se cada vez mais simples entre o povo rude e inculto, que entendia facilmente o generoso rabi; ele evitava as argumentações teológicas, as exortações áridas e quilométricas, nem apelava para os quadros estentóricos com o fito de valorizar a sua oração. Descrevia o "reino de Deus" com as palavras e as imagens conhecidas por aquela gente simples; eram símbolos da própria vida humana nas mais claras comparações objetivas! Aqui, aludia ao grão de mostarda, à espiga dourada, ao trigo e ao joio; ali, aos talentos enterrados, ao fermento que leveda a massa, à pérola de grande valor, à rede e à pesca; acolá, suas lições, seus apólogos e aforismos giravam em torno do filho pródigo, das bodas do filho do Rei, do bom Samaritano, do rico e de Lázaro, do juiz iníquo, dos servos inúteis ou dos trabalhadores da vinha! Tudo muito claro, incisivo e comovente, fácil de ser divulgado pelos mais hábeis iletrados e compreendido pelos mais obtusos! Mas, repetimos, nem todos aceitavam Jesus, malgrado sua gentileza, ternura e sublimidade, pois naquela época, os interesses humanos tanto quanto hoje ainda acontece, dividiam as criaturas de conformidade com os seus objetivos egoístas, ou paixões! O reino que o Mestre pregava, pedia de início a abdicação do interesse egoísta e do utilitarismo do inundo; insistia na humildade, na cessão de bens em favor dos mais necessitados, coisa que não podia ser bem aceita pelos ávidos, cúpidos e especuladores inimigos milenários de quaisquer reformas sociais!
Nem mesmo todos os galileus submetiam-se aos ensinos de Jesus, pois não querendo prejudicar os seus interesses, não se integravam no conteúdo evangélico do que ouviam!


(Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

quarta-feira, 6 de junho de 2012

AS PREGAÇÕES E AS PARÁBOLAS DE JESUS – lll









PERGUNTA: Por que Jesus preferia explicar sua doutrina através de parábolas?


RAMATÍS: — Certas tribos da Judéia e adjacências, com as quais Jesus tivera contato mais assíduo, entendiam-se entre si através do emprego pitoresco de parábolas. O Mestre, inteligente e intuitivo, percebeu que essa expressão verbal era o mais perfeito veículo para ensinar sua doutrina aos homens de sua época e também sintetizá-la de medo a servir para a humanidade futura.
Á parábola é o meio apropriado para os fins de comparação; e Jesus passou a empregá-la para despertar a mente das criaturas mais simples e sem cultura disciplinada. Ele era um apaixonado pela análise da Natureza e constantemente recorria aos seus fenômenos e objetivos, comparando-os com os acontecimentos da vida humana. Dava-lhes a feição de coisas que pareciam vivas e se mantinham em estreita relação, como se a Terra fosse apenas a ante-sala do céu, onde o homem primeiramente devia limpar suas sandálias. Os seus princípios mais altos, ele os pôde formular através dessa correlação constante das parábolas e das coisas animadas e inanimadas, às quais acrescentava o seu sublime toque de poesia espiritual. Os homens então o entendiam facilmente e se prendiam à suavidade e às ilações filosóficas que Jesus tirava da queda de uma folha, do murmúrio do regato, da mansuetude da pomba, da importância do tesouro enterrado ou da singela semente no solo! Sentiam-lhe o pensamento muito antes dele chegar à conclusão moral ou filosófica do que dizia; embeveciam-se ante a beleza e a força das imagens que sabia compor em simbiose com o encanto da Natureza. Os acontecimentos mais severos e os fatos mais complexos assumiam tons de ternura e feição familiar, que cativavam e penetravam com a força do bom senso.
Através da parábola, Jesus fazia resumidas narrativas e oferecia admiráveis lições de moral superior, que eram entendíveis em qualquer época e em qualquer latitude da vida humana. Ele sabia modelar as frases e escoimá-las do trivial, do inócuo e do inexpressivo, transformando a mais singela pétala de flor no centro de um acontecimento de relevante fim espiritual. Nas parábolas, ele punha toda sua tática e inteligência, pois o mais insignificante fenômeno da natureza transfundia-se na força de um símbolo cósmico. Os seus ensinamentos estão repletos de comparações singelas, mas sempre ligadas à vida em comum dos seres, que atravessaram os séculos e se transformaram em conceitos definitivos, constituindo-se num repositório de encantamento para a redenção humana.
Os provérbios, os aforismos e os adágios de senso comum de certos povos e tribos, sob o quimismo espiritual de Jesus, valiam por ensinamentos eternos; eram frases que ondularam sob a brisa cariciosa do seu Amor e penetravam fundo na alma dos homens! Simples conceitos e máximas aldeônicas iluminaram-se a guisa de princípios filosóficos inalteráveis; o modo peculiar de uma gente entender-se entre si, desdobrou-se num processo de análise e revelação em favor do entendimento da vida eterna! Só mesmo a força criadora de um Anjo, e o sentimento excelso de um Santo, conjugados à sabedoria cósmica de um sábio, seriam capazes de modelar preceitos eternos sob a argila das palavras mais insignificantes.
Aqui, a diminuta semente de mostarda serve para explicar a Fé que move montanhas e cria os mundos; ali, a parábola do talento enterrado adverte quanto à responsabilidade do homem no mecanismo da vida e da morte; acolá, o joio e o trigo simbolizam a seleção e divisão profética dos "bons" e dos "pecadores" no seio da humanidade! Enfim, as parábolas foram o maravilhoso recurso de que Jesus se serviu para ajustar o seu pensamento avançado e transmiti-lo de modo entendível aos conterrâneos. Elas oferecem um tom de respeitabilidade e o seu. conteúdo é sempre de nobre significado moral, no sentido de despertar a reflexão sobre a Verdade, que deve ser o fundamento da vida eterna do Espírito!


(Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)

terça-feira, 5 de junho de 2012

AS PREGAÇÕES E AS PARÁBOLAS DE JESUS - ll








PERGUNTA: Certa vez dissestes que estando encarnado no tempo de Jesus, tivestes ensejo de conhecê-lo pessoalmente, quando visitastes a Hebréia. Poderíeis dizer-nos algo dessa vossa experiência junto ao Mestre?



RAMATÍS: — Embora a nossa afirmação não vos sirva de prova irrefutável, mas apenas um enunciado de confiança, nós gozamos a felicidade de um encontro pessoal com Jesus, na Palestina, quando nos filiávamos a certa escola filosófica de Alexandria Assim pudemos conhecer algo dos ensinamentos da "Boa Nova" e do "Reino do Céu" que Ele pregava entre os judeus e pagãos. Quando o encontramos, ele usava uma túnica de esmerada brancura e um manto azul celeste, cabelos soltos nos ombros; e calçava umas sandálias de cordões amarrados nos tornozelos. Vimo-lo subir a encosta do morro, seguido pelos seus diletos discípulos e caminhando com infinito cuidado, a fim de não pisar sobre as pétalas aveludadas das anêmonas dos prados, que floresciam prodigamente, atapetando o solo com suas flores brancas, lilases e tarjadas de um roxo brilhante. Sob um bosque de ciprestes havia uma pedra avantajada e cômoda, emergindo entre os tufos de capim verde e florinhas silvestres, que estremeciam sob o afago da brisa suave. Voltando-se para & multidão que se formava a seus pés, encosta abaixo, Jesus primeiramente espraiou o seu olhar sereno sobre a paisagem. Sua alma parecia deleitar-se com os vinhedos, os ciprestes, os limoeiros, as oliveiras e a brancura dos campos de trigo agitando a sua cabeleira de espigas sobre o verde repousante do vale do Jordão. Tudo estava engalanado na força da estação primaveril; o campo cobria-se de flores e até dos troncos apodrecidos surgiam florinhas encarnadas, roxas, azulíneas e amarelas. A paisagem era empolgante de beleza, de cores e de luzes, pois seria difícil encontrar cenário tão fascinante quanto o da Galiléia na sua explosão de flores e perfumes inebriantes no ambiente campestre!
Acomodando-se sobre a rocha atapetada de musgos, Jesus espraiou o seu olhar sereno sobre a multidão, que ardia de ansiedade por ouvi-lo, enquanto João lhe estendia o "xale de rezar", peça tradicional entre os galileus, com o qual ele cobriu sua cabeça. Em seguida abençoou aquela gente silenciosa e começou a falar pausadamente, porém, dando relevo às frases e imagens que definiam suas idéias, enquanto os seus ouvintes estavam contagiados por sublime emoção. Era imenso o poder verbal de Jesus, pois impressionava profundamente as criaturas que lhe bebiam as palavras como um néctar dos deuses! Sua voz era pausada, repleta de doçura e de uma sonoridade musical cristalina, jamais ouvida por nós; as palavras vibravam no ar como lantejoulas vivas espargindo sons maviosos e tecendo um manto de harmonia a envolver sob o céu dadivoso a turba hipnotizada pelo verbo salvador. Espírito equilibrado e de visão exata, suas palavras ajustavam-se hermeticamente ao pensamento enunciado e conseguiam despertar emoções cujo eco ficava vibrando para sempre na alma dos seus ouvintes.
As mãos do meigo Rabi eram de molde irrepreensível; em suas pregações e gestos, elas pareciam mansas pombas configurando lhe no espaço os contornos do pensamento, e avivando as suas palavras amorosas. Naquele dia em que buscáramos conhecê-lo, o Mestre explicava a parábola do "Semeador" (3) pois ele costumava pregar o ensinamento de conformidade com o ambiente e as circunstâncias que .o tornassem mais vivo e entendível (4). Escolhia cada parábola de acordo com o tipo de auditório, pois a sua elevada intenção era oferecer a solução para os problemas de ordem moral e social daqueles que o ouviam!

(3) Mateus, XII. vs. 1 e 23; Marcos, VI, vs. 1 e 20; Lucas, VIII, vs. 4 e 15.

(4) Nota de Ramatís: Quando Jesus falava aos campônios expunha a parábola do semeador, do grão de mostarda, do joio e do trigo; aos pescadores referia-se à parábola dos peixes; num banquete ou festividade, falava dos talentos, do tesouro enterrado; entre negociantes e especuladores, da pérola de grande valor, o credor incompassivo, os dois devedores; entre magnatas, servia-se das parábolas do rico insensato, o rico e Lázaro; entre os assalariados explicava-lhes a parábola dos servos inúteis, dos trabalhadores da vinha e do mordomo infiel; entre homens de lei mencionava o juiz Iníquo e entre os religiosos a história do publicano e o fariseu.


Rodeado pelos campos floridos, cujo ar doce e perfumado traía o odor dos figos, das uvas, dos limões e dos pêssegos maduros, trazido nas asas do vento brando e fresco, Jesus comovia até às lágrimas, ao explicar que o semeador lançou suas sementes no solo duro, na rocha, na terra espinhenta; porém, finalmente, obteve êxito no bom terreno! O lugar escolhido para essa predica era de magnífica inspiração, pois além da florescência dos narcisos do campo, do fogaréu de papoulas vermelhas e das anêmonas safirinas, lilases e ametistas, que coloriam toda a planície de Genesaré, sem deixar um só desvão do solo descoberto, o quadro formoso completava-se pelo dorso esmeraldino levemente empado do mar da Galiléia, a despedir faíscas à luz do sol, que formava dourada cortina translúcida à altura da crista nevada dos montes mais altos.
Jamais poderíamos esquecer a veemência e a fé com que Jesus enunciava os seus ensinamentos, ainda prematuros e arrojados aos judeus subordinados à sua crença dogmática mosaísta. A gente da Galiléía, rude e ignorante, mas dotada de sentimentos compassivos, sublimava-se ante a predica do seu querido Rabi, pois ele realmente vivia em si mesmo aquilo que ensinava. Não era um sistema político, nem filosófico; porém, doutrina moral e religiosa, que tocava o coração e pedia a aprovação.do sentimento, muito antes do raciocínio da mente.
Quando retomamos para Alexandria e consultamos os nossos maiorais a respeito das atividades do Rabi Jesus, que tanto nos havia impressionado, todos eles foram unânimes em confirmar que, malgrado a sua aparente insignificância na época, na realidade ele era o maior revolucionário espiritual descido à Terra, a fim de sintetizar os ensinamentos dos seus precursores e redimir a humanidade!


(Do Livro: “O Sublime Peregrino” Ramatís/Hercílio Maes – Editora do Conhecimento)
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