Sabedoria Ramatis

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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Origem e história da umbanda - O advento do caboclo das sete encruzilhadas – ll parte




...”Desse modo, o caboclo estabeleceu as normas em que se processariam as sessões: os participantes estariam uniformizados de branco, o atendimento seria gratuito e diário. Deu também nome ao movimento religioso, que passou a se chamar "umbanda", uma manifestação do espírito para a caridade.
A casa de trabalhos espirituais que ora se fundava foi chamada de Nossa Senhora da Piedade, pois assim como Maria acolheu o filho nos braços, ali também seriam acolhidos como filhos todos os que necessitassem de ajuda ou de conforto.
Ditadas as bases do culto, após responder em latim e alemão às perguntas dos sacerdotes presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou à parte prática dos trabalhos: foi atender um paralítico, fazendo-o ficar totalmente curado, além de prestar socorro a outras pessoas presentes.
Nesse mesmo dia, Zélio incorporou um preto velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido com uma manifestação de loucura de seu aparelho. Com palavras de muita sabedoria e humildade, e uma timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os componentes da mesa, dizendo as seguintes palavras: "Nêgo num senta não, meu sinhô; nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco, e nêgo deve arrespeitá". Depois da insistência dos presentes, a entidade respondeu: "Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nego". Assim, continuou dizendo outras palavras que demonstravam a sua humildade. Uma assistente perguntou se ele sentia falta de algo que havia deixado na Terra, ao que o preto velho respondeu: "Minha caximba. Nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque busca".
Tal afirmativa deixou a todos perplexos, pois presenciavam a solicitação do primeiro elemento de trabalho para a religião recém-fundada, pois foi Pai Antônio a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usada pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antônio".
No dia seguinte, uma verdadeira romaria formou-se na rua Floriano Peixoto. Enfermos, cegos e outros necessitados iam em busca de cura e ali a encontravam, em nome de Jesus.
Médiuns, cuja manifestação mediúnica fora considerada loucura, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais. A partir daí, o Caboclo das Sete Encruzilhadas começou a trabalhar incessantemente para o esclarecimento, difusão e sedimentação da umbanda. Além de Pai
Antônio, tinha como auxiliar o Caboclo Orixá Malé, entidade com grande experiência no desmanche de trabalhos de baixa magia.
Em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas recebeu ordens do Astral superior para fundar sete tendas para a propagação da umbanda. As agremiações ganharam os seguintes nomes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, Tenda Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge e Tenda Espírita São Jerônimo. Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10 mil tendas, a partir das mencionadas.
Embora não tivesse dado continuidade à carreira militar para a qual se preparara, pois sua missão mediúnica não o permitiu, Zélio Fernandino de Moraes nunca fez da religião sua profissão.
Trabalhava para o sustento da família, e diversas vezes contribuiu financeiramente para manter os templos que o Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, a qual, segundo dizem, mais parecia um albergue. Nunca aceitou ajuda monetária de ninguém; era ordem do seu guia-chefe, embora tivesse recebido inúmeras ofertas. Ministros, industriais e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos, vendo-os recuperados, procuravam retribuir o benefício com presentes, ou preenchendo cheques vultosos. "Não os aceite. Devolva-os!", ordenava sempre o caboclo.
O termo "espírita" foi utilizado nas tendas recém-fundadas porque naquela época não se podia registrar o nome "umbanda". Quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da umbanda.
O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples: cânticos baixos e harmoniosos - sem utilizar atabaques e palmas -, vestimenta branca e proibição de sacrifícios de animais. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas de cor, rendas e lamês não eram aceitos. As
guias usadas eram apenas as determinadas pela entidade que se manifestava. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza e o ensinamento doutrinário com base no Evangelho constituíam os principais elementos de preparação do médium.
Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das casas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não os utiliza em seu ritual até o dia de hoje.” Após 55 anos de atividades à frente da Tenda Nossa Senhora da Piedade, Zélio entregou a direção dos trabalhos às suas filhas Zélia e Zilméa, continuando a trabalhar junto com sua esposa Isabel, médium que incorporava o Caboclo Roxo, na Cabana de Pai Antônio, em Boca do Mato, distrito de Cachoeiras de Macacu, no Rio de Janeiro, onde dedicou a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e a todos os que o procuravam.
Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade (TULEF) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que espelha bem a humildade e o alto grau de evolução dessa entidade de luz: A umbanda tem progredido e vai progredir ainda mais. É preciso haver sinceridade, honestidade. Eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a umbanda; médiuns irão se vender e serão expulsos mais tarde, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher, é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade - essa é a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na umbanda do Brasil: caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos, sede humildes, tende amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham trabalhar entre vós. É preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de umbanda.
Meus irmãos, meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos dezoito. Posso dizer que o ajudei a se casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa umbanda. A maior parte dos que trabalham na umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta casa.
Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso; assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher naquela que poderia ser sua mãe um espírito excelso, amoroso e abnegado. Que o nascimento de Jesus e a humildade que Ele demonstrou na Terra sirvam de exemplo a todos, iluminando os vossos espíritos, extraindo a maldade dos pensamentos ou das práticas. Que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz reine em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, porém amigo de todos, numa comunhão perfeita com companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles observem a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos curados, e a saúde para sempre em vossa matéria. Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas.
Zélio Fernandino de Moraes dedicou 66 anos de sua vida à umbanda, tendo retornado ao plano espiritual em 3 de outubro de 1975, com a certeza da missão cumprida. Seu trabalho e as diretrizes traçadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas continuam em ação por intermédio de suas filhas Zélia e Zilméa de Moraes, que têm em seus corações um grande amor pela umbanda, árvore frondosa que está sempre a dar frutos a quem souber e merecer colhê-los.”


(Origem: Do Livro “Umbanda Pé No Chão” – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)

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