Sabedoria Ramatis

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sábado, 11 de fevereiro de 2012

Origem e história da umbanda - O advento do caboclo das sete encruzilhadas - l







“No final de 1908, Zélio Fernandino de Moraes, um jovem de 17 anos que se preparava para ingressar na carreira militar, começou a sofrer estranhos surtos, durante os quais se transfigurava totalmente, adotando a postura de um idoso, com sotaque diferente e tom manso, como se fosse uma pessoa que tivesse vivido em outra época. Muitas vezes, assumia uma forma que mais parecia a de um felino lépido e desembaraçado que mostrava conhecer muitas coisas da natureza.
A família do rapaz, residente e conhecida na cidade de Neves, estado do Rio de Janeiro, ficou bastante assustada com esses acontecimentos, achando, a princípio, que o rapaz apresentava algum distúrbio mental repentino. Por isso, o encaminhou a um psiquiatra que, após examiná-lo durante vários dias, sugeriu que o conduzissem a um padre, pois os sintomas apresentados não eram encontrados em nenhuma literatura médica.
O pai de Zélio, que era simpatizante do espiritismo e costumava ler livros espíritas, resolveu levá-lo a uma sessão na Federação Espírita de Niterói, presidida na época por José de Souza, em que o jovem foi convidado a ocupar um lugar à mesa. Então, tomado por uma força estranha alheia à sua vontade, e contrariando -as normas da casa que impediam o afastamento de qualquer dos componentes da mesa, ele levantou-se e disse: "Aqui está faltando uma flor". Em seguida, saiu da sala, dirigiu-se ao jardim e retornou com uma flor nas mãos, que colocou no centro da mesa. Tal atitude causou um enorme tumulto entre os presentes.
Restabelecidos os trabalhos, manifestaram-se nos médiuns kardecistas entidades que se diziam pretos escravos e índios, ao que o dirigente da casa achou um absurdo. Então, os advertiu com aspereza, alegando "atraso espiritual", e convidou-os a se retirarem.
Após esse incidente, novamente uma força estranha tomou o jovem Zélio e, através dele, falou: "Por que repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. É por causa de suas origens e de sua cor?".
Seguiu-se um diálogo acalorado. Os responsáveis pela sessão procuravam doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma argumentação segura. Um médium vidente perguntou à entidade: "Por que o irmão fala nesses termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau cultural que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala desse modo, se estou vendo que me dirijo a um jesuíta, cuja veste branca reflete uma aura de luz? Qual é o seu verdadeiro nome, irmão?".
O espírito desconhecido então respondeu: "Se querem um nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, pois para mim não haverá caminhos fechados. O que você vê em mim são resquícios de uma encarnação em que fui o padre Gabriel Malagrida. Acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Inquisição, em Lisboa, no ano de 1761. Mas, em minha última existência física, Deus me concedeu o privilégio de reencarnar como um caboclo brasileiro". Prosseguindo, a entidade revelou a missão que trazia do Astral: "Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã (16 de novembro) estarei na casa de meu aparelho, às 20 horas, para dar início a um culto em que esses irmãos poderão transmitir suas mensagens e cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve haver entre todos, encarnados e desencarnados".
O vidente retrucou com ironia: "Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?". Ao que o espírito respondeu: "Cada colina da cidade de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que será iniciado amanhã".
Para finalizar, o caboclo completou: "Deus, em Sua infinita bondade, estabeleceu na morte o grande nivelador universal. Rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornam iguais perante o desenlace, mas vocês, homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essas diferenças além da barreira da morte. Por que não poderiam nos visitar esses humildes trabalhadores do Espaço, se, apesar de não terem tido destaque social na Terra, também trazem importantes mensagens do Além?".
No dia seguinte, na casa da família Moraes, na rua Floriano Peixoto, número 30, ao se aproximar a hora marcada, estavam reunidos os membros da Federação Espírita, os parentes mais próximos de Zélio, amigos e vizinhos, para comprovarem a veracidade do que fora declarado na véspera, e, do lado de fora, uma multidão de desconhecidos.
Às 20 horas em ponto, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas, para declarar que naquele momento se iniciava um novo culto, em que os espíritos de velhos africanos escravos e de índios brasileiros, os quais não encontravam campo de atuação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas em sua totalidade para os trabalhos de feitiçaria, trabalhariam em benefício de seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, a raça, o credo e a condição social.
A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal do culto que seria por base o Evangelho de Jesus.”

(Origem: do Livro “Umbanda Pé No Chão” – Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)

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